55. O PODER DA MORTE (2025) MATTANÓ.
OSNY MATTANÓ JÚNIOR
O PODER
DA
MORTE
(ADAPTAÇÃO DO LIVRO O PODER DO MITO)
OSNY MATTANÓ JÚNIOR
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SUMARIO
INTRODUÇÃO DE BILL MOYERS
INTRODUÇÃO DE OSNY MATTANÓ JÚNIOR
MITO E O MUNDO MODERNO
JORNADA INTERIOR
OS PRIMEIROS CONTADORES DE HISTÔRIAS
SACRIFÍCIO E BEM AVENTURANÇA
A SAGA DO HERÓI
A DÁDIVA DA DEUSA
HISTÓRIAS DE AMOR E MATRIMÔNIO
MÁSCARAS DA ETERNIDADE
O PODER DO MITO
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INTRODUÇÃO DE BILL MOYERS
Durante semanas após a morte de Joseph Campbell, eu me lembrava dele, para onde quer que me voltasse.
Saindo do metrô na Times Square, e sentindo a energia da multidão opressora, sorri para mim mesmo, relembrando a imagem que certa vez ocorrera a Campbell, no mesmo lugar: “A última encarnação de Édipo, esse continuado romance entre a Bela e a Fera, está postada, agora mesmo, na esquina da Rua 42 com a Quinta Avenida, aguardando o verde do semáforo”.
Numa pré-estréia do último filme de John Huston, The Dead, baseado numa história de James Joyce, pensei novamente em Campbell. Um de seus trabalhos mais importantes é uma chave interpretativa de Finnegans Wake. O que Joyce chamava “o grave e constante” no sofrimento humano, Campbell sabia que era o tema principal da mitologia clássica. “A causa secreta de todo sofrimento”, dizia, “é a própria mortalidade, condição primordial da vida. Quando se trata de afirmar a vida, a mortalidade não pode ser negada.”
Certa vez, quando conversávamos sobre o tema do sofrimento, ele mencionou, um após outro, Joyce e Igjugarjuk. “Quem é Igjugarjuk?”, perguntei, mal conseguindo imitar a pronúncia. “Oh”, respondeu Campbell, “era o xamã de uma tribo esquimó caribou, no norte do Canadá, que contou a visitantes europeus que a única verdadeira sabedoria 'vive longe da espécie humana, lá fora, na grande vastidão, e só pode ser atingida através do sofrimento. Só a privação e o sofrimento abrem o entendimento para tudo o mais que se esconde'.”
“Certamente”, eu disse, “Igjugarjuk: ”
Joseph relevou minha ignorância. Tínhamos interrompido a caminhada. Seus olhos se iluminaram e ele disse: “Você é capaz de imaginar uma longa noite ao redor da lareira, com Joyce e Igjugarjuk? Rapaz, como eu gostaria de presenciar isso!”
Campbell morreu pouco antes do vigésimo quarto aniversário do assassínio de John F. Kennedy, tragédia que ele havia analisado em termos mitológicos, durante nosso primeiro encontro, anos antes. Agora, quando aquela melancólica recordação ressurgiu, sentei-me para conversar com meus filhos, já crescidos, sobre as reflexões de Campbell. Ele havia descrito o solene funeral com honras de Estado como “uma ilustração da elevada função do ritual, para a sociedade”, evocando temas mitológicos enraizados na necessidade humana. “Isto foi um evento ritualizado, da maior necessidade social ”, Campbell escrevera. A morte pública de um presidente, “que representa toda a nossa sociedade, o organismo social, vivo, de que nós próprios somos os membros, eliminado num momento de vida exuberante, exigia um rito compensatório para restabelecer o senso de solidariedade. Ali estava uma enorme nação, transformada em comunidade unânime, durante aqueles quatro dias, todos
nós participando da mesma maneira, simultaneamente, de um evento simbólico singular ”. Ele afirmou que foi “o primeiro e único evento dessa espécie, em tempos de paz, que me deu a sensação de ser membro de toda essa comunidade nacional, engajado como uma unidade no cumprimento de um rito profundamente significativo ”.
Lembrei-me dessa descrição também quando um de meus colegas foi interrogado por uma amiga sobre nosso trabalho com Campbell: “Por que vocês precisam de mitologia?” Ela defendia a opinião corrente, moderna, de que “todos esses deuses gregos e quejandos” são irrelevantes para a condição humana, hoje. O que ela não sabia – o que muitos não sabem –
A caminho do trabalho, certa manhã, após a morte de Campbell, parei diante da vitrine de uma locadora de vídeo na vizinhança, que, através de um monitor, mostrava cenas do filme de George Lucas, Star Wars. Detive-me ali, relembrando a ocasião em que Campbell e eu tínhamos visto o filme, juntos, no Rancho Skywalker, de Lucas, na Califórnia. Lucas e Campbell se tornaram bons amigos, depois que o cineasta, reconhecendo sua dívida para com o trabalho de Campbell, convidou o pesquisador para assistir à trilogia Star Wars. Campbell se regozijou com os antigos temas e motivos da mitologia a se desdobrarem na ampla tela, em poderosas imagens contemporâneas. Nessa visita em particular, tendo exultado mais uma vez com os perigos e proezas de Luke Skywalker, Joseph inflou-se de animação enquanto falava de como Lucas “imprimiu a mais nova e mais poderosa rotação ” à história clássica do herói.
“E o que vem a ser isso?”, perguntei.
“É o que Goethe disse no Fausto, mas que Lucas expressou em linguagem moderna – a mensagem de que a tecnologia não vai nos salvar. Nossos computadores, nossas ferramentas, nossas máquinas não são suficientes. Temos que confiar em nossa intuição, em nosso verdadeiro ser.”
“Isso não é uma afronta à razão?”, eu disse. “E não estamos já, por assim dizer, batendo em rápida retirada da razão?”
“Não é disso que trata a jornada do herói. Não é para negar a razão. Ao contrário, pela superação das paixões tenebrosas, o herói simboliza nossa capacidade de controlar o selvagem irracional dentro de nós.” Em outras oportunidades, Campbell tinha lamentado nosso fracasso “em admitir, dentro de nós, o enfebrecimento carnal, lúbrico”, endêmico à natureza humana. Agora ele estava descrevendo a jornada do herói, não como um ato de coragem, mas como uma vida vivida em termos de autodescoberta, “e Luke Skywalker
nunca foi mais racional do que quando encontrou, dentro de si mesmo, as reservas de caráter necessárias para enfrentar seu destino ”.
Para Campbell, ironicamente, o fim da jornada do herói não é o engrandecimento do herói. “Não se trata”, ele o afirmou em uma das suas conferências, “de identificar quem quer que seja com qualquer das figuras ou poderes experimentados. O iogue hindu, lutando por se libertar, identifica-se com a Luz e jamais retorna. Mas ninguém que abraçasse o propósito de servir aos outros se permitiria tal evasão. O objetivo último da busca não será nem evasão nem êxtase, para si mesmo, mas a conquista da sabedoria e do poder para servir aos outros.” Uma das muitas distinções entre a celebridade e o herói, ele dizia, é que um vive apenas para si, enquanto o outro age para redimir a sociedade.
Joseph Campbell afirmou a vida como aventura. “Para o inferno com isso”, ele exclamou, quando seu supervisor acadêmico tentou enquadrá-lo no estreito currículo universitário. Ele desistiu de trabalhar no seu projeto de doutoramento e preferiu recolher-se ao campo, para ler. E prosseguiu a vida toda a ler livros sobre quase tudo: antropologia, biologia, filosofia, arte, história, religião. E continuou a lembrar aos outros que um caminho seguro para atingir o mundo se descortina ao longo das páginas impressas. Poucos dias depois de sua morte, recebi carta de uma de suas antigas alunas, que atualmente colabora na editoria de uma grande revista. Tendo sabido da série em que eu estivera trabalhando com Campbell, ela escreveu para testemunhar como “a energia ciclônica [desse homem] se expandiu através de todas as possibilidades intelectuais” dos estudantes que assistiam, “de respiração suspensa, às suas aulas ”, no Sarah Lawrence College. “Enquanto ouvíamos enfeitiçados”, escreveu ela, “aturdia-nos o peso das leituras obrigatórias, semanais, exigidas por ele. Por fim, uma de nós se levantou e enfrentou-o (em puro estilo Sarah Lawrence), dizendo: 'Eu estou fazendo três outros cursos, sabe? Todos exigem leituras, sabe? Como é que o senhor espera que eu me desincumba de tudo isso em uma semana?' Campbell apenas sorriu e disse: 'Ficaria espantado se tentasse. Você tem o resto da vida para fazer essas leituras'.”
Ela concluiu: “E eu ainda não terminei – é o inesgotável exemplo de sua vida e sua obra”.
Qualquer um poderia avaliar o peso desse impacto na homenagem prestada em sua memória, no Museu de História Natural de Nova Iorque. Levado até lá, em criança, ele se deixara fascinar pelos postes totêmicos e pelas máscaras. Quem os fez?, ele se perguntou. Os que os fizeram, o que tinham em mente? E começou a ler tudo o que pôde sobre os índios, seus mitos e lendas. Aos dez anos, já estava empenhado na atividade que faria dele um dos principais investigadores de mitologia, em todo o mundo, e um dos mais estimulantes professores do nosso tempo. Dizia-se que “ele podia dar vida aos ossos do folclore e da antropologia”. Na homenagem em sua memória, no museu onde três quartos de século antes sua imaginação fora estimulada pela primeira vez, as pessoas se reuniram para lhe render tributo. Houve uma performance, por Mickey Hart, o baterista dos Grateful Dead, grupo de rock com quem Campbell partilhou verdadeiro fascínio pela percussão. Robert Bly tocou saltério e leu poesia dedicada a Campbell. Antigos alunos falaram, assim como amigos que ele fizera, depois que , aposentado, se mudara com a esposa, a bailarina Jean Erdman, para o Havaí. As grandes editoras de Nova Iorque se fizeram representar. Assim também escritores e pesquisadores, jovens e velhos, que tinham encontrado em Joseph Campbell o seu desbravador de caminho.
E jornalistas. Eu tinha sido atraído até ele numa época em que, por minha conta, estava tentando trazer à televisão as mentes vivas do nosso tempo. Tínhamos gravado dois programas no museu, e sua aparição na tela fora tão pujante que mais de quatorze mil pessoas escreveram solicitando cópias de suas declarações. Jurei então que iria no seu encalço outra vez, para uma exploração mais sistemática e abrangente de suas idéias. Ele escreveu ou organizou cerca de vinte livros, mas foi como professor que me aproximei dele, um professor riquíssimo em conhecimento do mundo e em linguagem imaginativa, e queria que os demais se aproximassem dele também como tal. Assim, o desejo de partilhar os tesouros desse homem inspirou minha série para a PBS e este livro.
Um jornalista, é o que se diz, goza do privilégio de se educar em público; somos os felizardos a quem se permite gastar o tempo num contínuo curso de educação para adultos. Ninguém me ensinou mais que Campbell, e quando eu lhe disse que ele deveria assumir a responsabilidade pelo que adviesse de me haver adotado como aluno, ele riu e citou a velha sabedoria romana: “Os fados guiam àquele que assim o deseje; aquele que não o deseja, eles arrastam”.
Ele ensinou, como o fazem os grandes professores, pelo exemplo. Não era seu hábito tentar convencer ninguém do que fosse (exceto uma vez, quando persuadiu Jean a se casar com ele). Pregadores se equivocam, ele me disse, quando tentam “persuadir pessoas à fé; fariam melhor se revelassem a radiância de sua própria descoberta”. E que alegria ele revelou com aprender a viver! Matthew Arnold acreditava que a quintessência do espírito crítico consiste em “conhecer o melhor do que é conhecido e ensinado no mundo, e, por seu lado, ao tornar isso conhecido, criar uma corrente de idéias verdadeiras e estimulantes”. Assim fez Campbell. Era impossível escutá-lo – ouvi-lo de verdade – sem experimentar, na própria consciência, um emocionante frescor de vida, o crescimento da própria imaginação.
Ele concordava em que a “idéia-guia” do seu trabalho era procurar “o caráter comum dos temas nos mitos do mundo, visando à constante exigência, na psique humana, de uma centralização em termos de princípios profundos”.
“Você se refere à busca do sentido da vida?”, perguntei. “Não, não, não ”, ele disse. “À experiência de estar vivo.”
Eu tinha dito que a mitologia é um mapa interior da experiência, traçado por alguém que empreendeu a viagem. Creio que ele não endossaria a prosaica definição do jornalista. Para ele, mitologia era “a canção do universo”, “a música das esferas ” – música que nós dançamos mesmo quando não somos capazes de reconhecer a melodia. Ouvimos seus refrões, “quer quando escutamos, com altivo enfado, a ladainha ritual de algum curandeiro do Congo, quer quando lemos, com refinado enlevo, traduções de poemas de Lao Tsé, ou rompemos a casca de um argumento de S. Tomás de Aquino, ou apreendemos, num relance, o sentido radiante ou bizarro de uma lenda esquimó”.
Ele imaginou que esse imenso e cacofônico coral começou quando nossos primeiros ancestrais contaram histórias uns aos outros, a respeito dos animais, que eles matavam para comer, e a respeito do mundo sobrenatural, para onde os animais pareciam ir quando morriam. “Lá fora, em alguma parte”, para além do plano visível da existência, estava o “senhor dos animais”, que exercia sobre os seres humanos o poder de vida ou morte: se ele
deixasse de mandar de volta as feras, para serem novamente sacrificadas, os caçadores e sua prole morreriam de inanição. Por isso as sociedades primitivas aprenderam que “a essência da vida subsiste graças ao matar e comer; esse é o grande mistério que os mitos têm que enfrentar ”. A caça tornou-se um ritual de sacrifício, e os caçadores encenavam atos de expiação diante dos espíritos dos animais que partiam, esperando coagi -los a retornar, para serem sacrificados de novo. As feras eram vistas como enviados do outro mundo, e Campbell admitiu “um mágico, maravilhoso acordo ” gestando -se entre o caçador e a caça, como se eles estivessem aprisionados num círculo “místico, atemporal ”, de morte, sepultamento e ressurreição. Sua arte pinturas nas paredes das cavernas – e sua literatura oral deram forma ao impulso que passou a se chamar religião.
Quando esses indivíduos primitivos passaram da caça ao plantio, as histórias que contavam para explicar os mistérios da vida mudaram, também. Então, a semente se tornou o símbolo mágico do ciclo infinito. A planta morria, era enterrada e sua semente renascia. Campbell mostrou-se fascinado pelo fato de esse símbolo ter sido incorporado pelas grandes religiões do mundo, como a revelação da verdade eterna a vida provém da morte, ou, como ele dizia: “A bem-aventurança provém do sacrifício”.
“Jesus tinha o olho ”, ele dizia. “Que magnificente realidade ele viu no grão de mostarda!” Ele citaria as palavras de Jesus, do Evangelho de São João: “Em verdade, em verdade vos digo, a menos que caia na terra e morra, o grão de trigo ficará inerte e abandonado; mas, se morrer, dará muitos frutos”. E logo em seguida citaria o Alcorão: “Você pensa que entrará no Jardim da Bem-Aventurança sem as provações que afligiram àqueles que entraram antes de você?” Ele vagou por toda essa vasta literatura do espírito, inclusive traduzindo escrituras hindus, do sânscrito, e continuou a coligir histórias mais recentes, que adicionou
“E aí está”, disse Campbell, “a suprema mensagem da religião: ' Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes'[Mateus 25,40].”
Homem espiritual, ele encontrou na literatura da fé os princípios comuns ao espírito humano. Mas esses princípios têm de ser libertados dos liames tribais, caso contrário as religiões do mundo continuarão a ser como no Oriente Médio e na Irlanda do Norte, hoje – uma fonte de desdém e agressão. As imagens de Deus são muitas, ele dizia, chamando-as “máscaras da eternidade”, que ao mesmo tempo escondem e revelam “a Face da Glória”. Ele desejou saber o que significa o fato de Deus assumir tão diferentes máscaras em diferentes culturas, apesar de histórias semelhantes serem encontradas em tradições divergentes – histórias da criação, nascimentos virginais, encarnações, morte e ressurreição, segundos retornos, dias do julgamento. Ele apreciava a perspicácia das escrituras hindus: “A verdade é uma; os sábios a chamam por diferentes nomes”. Todos os nossos nomes e imagens de Deus são máscaras, ele dizia, referindo-se à suprema realidade que, por definição, transcende a linguagem e a arte. Um mito é uma máscara de Deus, também – uma metáfora daquilo que repousa por trás do mundo visível. Não obstante as divergências,
ele dizia, as religiões todas estão de acordo em solicitar de nós o mais profundo empenho no próprio ato de viver, em si mesmo. O pecado imperdoável, no livro de Campbell, é o pecado da inadvertência, de não estar alerta, de não estar inteiramente desperto.
Nunca encontrei alguém que soubesse contar melhor uma história. Escutando-o falar de sociedades primitivas, fui transportado às largas planuras sob a imensa cúpula do céu aberto, ou à espessa floresta, sob o pálio das árvores, e comecei a entender como as vozes dos deuses falavam através do vento e do trovão, e como o espírito de Deus flutuava em todo riacho da montanha, e toda a terra florescia como um lugar sagrado – o reino da imaginação mítica. E perguntei: Agora que nós, modernos, limpamos a terra de todo mistério – agora que fizemos, segundo a descrição de Saul Bellow, “uma faxina na crença” –, qual será o alimento de nossa imaginação? Hollywood e os enlatados para TV?
Campbell não era pessimista. Ele acreditava que existe um “nível de sabedoria, para além dos conflitos entre ilusão e verdade, através do qual as vidas podem voltar a ser irmanadas”. Encontrar esse nível é a “questão primordial desta época”. Nos seus últimos anos, ele buscava uma nova síntese entre ciência e espírito. “A mudança de uma visão geocêntrica para uma visão heliocêntrica do mundo ”, escreveu ele, depois que os astronautas chegaram à Lua, “parece ter removido o homem do centro e o centro parece tão importante. Espiritualmente, porém, o centro está onde está o olhar. Poste-se numa elevação e contemple o horizonte. Poste-se na Lua e contemple a Terra inteira se erguendo
– ainda que através da televisão, na sua sala de visita.” O resultado é uma insuspeitada expansão do horizonte, que poderia servir, em nossa época, como as antigas mitologias serviram, no passado, para abrir as portas da percepção “para o prodígio, ao mesmo tempo terrível e fascinante, de nós mesmos e do universo”. Para ele, não foi a ciência que diminuiu os seres humanos ou nos divorciou da divindade. Ao contrário, as novas descobertas da ciência “nos reúnem aos antigos”, por nos tornarem capazes de reconhecer, no todo do universo, “um reflexo ampliado de nossa própria e mais íntima natureza; assim, somos de fato seus ouvidos, seus olhos, seu pensamento e sua fala – ou, em termos teológicos, os ouvidos de Deus, os olhos de Deus, o pensamento de Deus, a Palavra de Deus ”. A última vez que o vi, perguntei-lhe se ele ainda acreditava – como tinha escrito uma vez – “que estamos participando, neste momento, de um dos grandes saltos do espírito humano para o conhecimento, não só da natureza exterior, mas também do nosso próprio e profundo mistério interior”.
Ele pensou um pouco e respondeu: “O maior salto que já houve ”.
Quando soube de sua morte, demorei-me um pouco folheando o exemplar de The Hero with a Thousand Faces que ele havia me oferecido. E pensei no tempo em que fizera minha descoberta do mundo do herói mítico. Vagueava pela pequena biblioteca pública da cidade onde cresci e, procurando ao acaso nas estantes, apanhei um livro que descortinou maravilhas para mim: Prometeu roubando o fogo dos deuses em benefício da raça humana; Jasão enfrentando o dragão para conquistar o Velocino de Ouro; os cavaleiros da Távola Redonda procurando o Santo Graal. Mas enquanto não cruzei com Joseph Campbell não fui capaz de compreender que os westerns a que eu assistia nas matinês de sábado tomavam muito de empréstimo, livremente, a esses contos antigos. E que as histórias aprendidas na escola dominical correspondiam àquelas de outras culturas, que reconheciam a suprema
aventura da alma, o esforço dos mortais para apreender a realidade de Deus. Ele me ajudou a ver as conexões, a compreender como as peças se juntam, e não apenas a temer menos, mas a dar as boas vindas ao que ele descreveu corno “um portentoso futuro multicultural ”.
Ele foi criticado, é certo, por lidar com interpretações psicológicas do mito, por parecer confinar o papel contemporâneo do mito a uma função ou ideológica ou terapêutica. Não tenho competência para intervir nesse debate e deixo a outros a tarefa de fazê-lo. Ele nunca pareceu aborrecido pela controvérsia. Apenas continuou a ensinar, abrindo aos outros novos caminhos de visão.
Acima de tudo, foi da vida autêntica que ele viveu que nos instrui. Quando dizia que os mitos são chaves para a nossa mais profunda força espiritual, a força capaz de nos levar ao maravilhamento, à iluminação e até ao êxtase, ele se expressava como alguém que tinha estado nos lugares que convidava os outros a visitar.
O que me atraiu nele?
Sabedoria, sem dúvida; ele era extremamente sábio.
E aprendizagem; ele de fato “conhecia o vasto escopo de nosso passado panorâmico, como poucos homens jamais conheceram ”.
Mas havia mais.
Uma história é a maneira de contá-la. Ele era um homem de mil histórias. Eis uma de suas favoritas. No Japão, durante um congresso internacional sobre religião, Campbell entreouviu outro delegado norte-americano, um filósofo social de Nova Iorque, dizendo a um monge xintoísta: “Assistimos já a um bom número de suas cerimônias e vimos alguns dos seus santuários. Mas não chego a perceber a sua ideologia. Não chego a perceber a sua teologia”. O japonês fez uma pausa, mergulhando em profundo pensamento, e então balançou lentamente a cabeça. “Penso que não temos ideologia”, disse. “Não temos teologia. Nós dançamos.”
E assim fez Joseph Campbell – sob a música das esferas.
Bill Moyers
O PODER DA MORTE
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Como a mortalidade jamais pode ser evitada, deslumbramos um novo alvorecer do Sol, em meio a eventos extraterrestres ou alienígenas, onde a cultura que se sobressai aos olhos parece ser das estrelas, dos planetas, do Universo, onde ele mesmo é a casa e o caminho dos alienígenas, o objeto de seu amor, mesmo que um amor diferente do nosso, que privilegie não necessariamente a comunhão, mas o exercício da força, ou seja, a segurança e o patrimônio alienígenas, suas incolumidades e suas vidas, comunidades e relações, suas instituições, poderes e indivíduos, inclusive suas tecnologias e biocapacidades, ou seja, capacidades cerebrais, que podem vir a ser as responsáveis pelos seus progressos científicos e alienígenas, comportamentais, como por exemplo, a abdução, que sugiro pode vir a ser fruto da capacidade cerebral e da sua potência associada às tecnologias com o objetivo de superarem suas adversidades orgânicas, comportamentais, ambientais, do universo e sociais.
A privação e o sofrimento abrem o entendimento para tudo o que mais que se oculta e se esconde por detrás das máscaras do conhecimento e do saber, até mesmo no mundo alienígena, pois o sofrimento parece também conduzir o comportamento alienígena, seja através da fome ou da exploração ambiental.
O que muitos não sabem é que os vestígios das mitologias se alinham ao longo dos muros do nosso sistema interior de crenças e de valores, como cacos de cerâmicas despedaçados num sítio arqueológico, e então podemos encontrar vestígios de mitologias que tratam de assuntos extraterrestres, desde os períodos dos povos primitivos.
Os papéis sociais precisam ser mitologizados, como na religião, na guerra, no amor e na morte, pois a mitologia nos trás ensinamentos que não podemos descartar, sobretudo sobre culturas primitivas e alienígenas.
Nossas tecnologias jamais serão suficientes o bastante para nos ajudarem sem a nossa intuição e percepção inconsciente, esse é o papel da inteligência humana, a inteligência pode ser mais forte do que a tecnologia na abordagem contra os alienígenas, pois quem sabe o potencial de destruição dos alienígenas?
Os fados guiam mas também arrastam àquele que não os desejem, devemos saber aceitar nossa condição, nossos fados são nossas tecnologias e nossas defesas que nos parecem inferiores às alienígenas, devemos saber aceitar isto para mudar esta possível realidade.
A experiência que me proponho é a experiência de estar vivo e não o sentido da vida, essa experiência nos ensina que estar vivo é mais importante do que ter um sentido para a vida, pois a vida pode parecer não mais ter sentido por causa dos alienígenas.
Essa experiência começou com os primeiros ancestrais que começaram a contar histórias uns aos outros, sobre os animais, que eles matavam para comer, e a respeito do mundo sobrenatural, para onde os animais iam depois que morriam ou pareciam ir.
Por isso as sociedades primitivas subsistem graças ao matar e comer, esse é o mistério de seus mitos. A caça veio a se tornar um ritual de sacrifício.
Quando esses indivíduos passaram da caça ao plantio, as histórias também mudaram, então apareceu à semente e a semente se tornou o símbolo mágico do ciclo infinito. A planta morria, era enterrada e sua semente renascia.
Depois veio a suprema mensagem da religião, onde o homem espiritual encontrou na literatura da fé os princípios comuns ao espírito humano. Devemos nos defender com a nossa mensagem da religião, pois ela nos trás esperança e um futuro melhor, forças para lutar e para viver, os alienígenas não trazem esperança e nem forças para lutar e para viver, mas para desistir de tudo. Deus existe!
E então veio ¨o maior salto que já houve¨. O homem pisou na Lua e trouxe sua mensagem, sua mudança de visão de mundo, de planeta Terra. A Terra passou a ser vista com amor e como algo frágil, como algo exposto no universo e que precisa de defesas, ¨o homem precisa continuar voando pelo espaço¨.
E hoje deslumbramos os extraterrestres, a telepatia e a lavagem cerebral. Os extraterrestres trouxeram uma nova visão de mundo, onde o homem não é mais o centro da razão, da inteligência, da força, da dominância e do poder, podendo até mesmo ser escravizado e abduzido pelos alienígenas, correndo o risco de entrar em guerra ou em conflito com os alienígenas e se for mais fraco, entrar em extinção. Notamos aqui a possibilidade da nossa extinção, precisamos lutar e nos esforçar para dominar nosso planeta, talvez educar os alienígenas seja alguns dos primeiros passos a ser dado para uma convivência, pois por enquanto é impossível evitar contatos extraterrestres.
Certamente o homem tem que acelerar seu desenvolvimento científico acerca dos extraterrestres e é para isto que trabalho. Assim a cultura alienígena pode ser uma cultura de cosmos, de amor ao universo, às estrelas, aos planetas, etc., e pouco menos aos seres vivos inteligentes, se eles forem ameaça para os alienígenas, pois seres vivos que não são ameaças não despertam instintos de autoproteção e de proteção de seus grupos, de suas culturas e tecnologias. Talvez o maior inimigo da evolução seja a mente inteligente do ser vivo, seja ele Homo Sapiens ou alienígena. Devemos ser como Jesus Cristo ou como Hitler quando abordarmos os alienígenas em nosso planeta? E no universo? E em nossas futuras explorações espaciais seremos como Jesus Cristo ou como Hitler? Da mesma forma como devemos ser com a telepatia e com as vítimas da lavagem cerebral, marcadas para sempre como os judeus da 2ª Guerra Mundial, devemos ser como Jesus Cristo ou como Hitler? Ou seja, devemos amar ou odiar a vida e a vida do próximo e da outra criatura que como eu também é deste universo e é meu semelhante?!
Olhando para o passado, para as mitologias primitivas descobrimos que o homem desde sua concepção sempre amou o universo e a Terra, teve deuses e tem Deus, teve elementos da natureza e elementos do universo como deuses, isto pode ter ajudado o ser humano em sua trajetória até aqui sem ter que enfrentar alienígenas, pois talvez os alienígenas deslumbrem elementos do universo, diferentemente do ser humano que também se deslumbra com armas e bombas, com economias e com dinheiro, com riqueza e pobreza, com abuso, exploração e violência. Jesus Cristo não se deslumbra com isto!
Contudo as referências da vida sempre terminam no poder da morte sobre o indivíduo, sobre a família, a vida doméstica, infantil, social, escolar, trabalhista, profissional, libidinosa, de comunhão, de segurança, sobre as cidades, grupos, organizações, instituições e a burocracia, reunindo elementos que dão forma a repertórios comportamentais, como tabus e totens, ritos e mitos, folclore, contos de fada, magia e mágica, espiritualidade, filosofias, religião, medicina, psicologia e psicanálise, delírios e alucinações, e transtornos mentais associados a perda, ao luto e a sua elaboração que encontra na sociedade mecanismos autênticos e evoluídos, seletivos e provados por competição entre indivíduos e espécies diferentes, reservando o direito de se achar o abençoado e o Santo, aquele que recebeu graças e milagres de Deus, de Nossa Senhora e do Seu Amor, quando na realidade trata-se apenas de um indivíduo sofrendo influências do poder da morte sobre ele. Deus não precisa da Morte para se alegrar ou se manifestar, Jesus Cristo morreu e Deus não fez nada visível para ressuscitá-lo, Jesus Cristo pode ter ressuscitado como um ser polimorfo alienígena que além de vencer a morte é capaz de se transformar em Ser de Luz ou em Esferas que atravessam as paredes e voam pelo espaço, indo de encontro a discos voadores, aos quais de juntam, conforme sabemos hoje. A Virgem Maria pode ter sido abduzida, sabemos que a Virgem Maria em Medjugorje entregou um Pergaminho com Profecias e Segredos que aconteceriam na vida de determinadas pessoas, sabemos hoje que o Pergaminho está sendo tido como falso, pois as Profecias e Segredos não se cumpriram na data esperada, sabemos que Segredos e Profecias verdadeiras jamais falham, ainda mais se houverem provas materiais como o Pergaminho de Medjugorje, outro acontecimento estranho é que o Pergaminho está alterado ou pode estar alterado, isto não é digno de um Segredo ou Profecia e nem de um documento divino, restando apenas imaginar que os responsáveis por isto são criaturas alienígenas que deixam o seu rastro para os investigadores. Quando criaturas humanas, animais ou alienígenas se interessam pela morte e pelo seu poder, sempre encontramos vestígios e rastros que denunciam o seu verdadeiro interesse, motivação, habilidade em questão e vontade inconsciente, subconsciente, ou consciente, cultural, dependente de conhecimentos e de ritos e mitos, de totens e tabus, e a sua realidade que pode ser infantil, doméstica e familiar ou instintiva, hostil, violenta e agressiva.
Osny Mattanó Júnior
O HOMO SAPIENS E O COSMOS
O Homo Sapiens e o cosmos podemos nos deslumbrar com as operações das Forças Armadas que são uma organização tipicamente humana, não há qualquer outra espécie de vida no planeta Terra que tenha este tipo de organização comportamental e social.
O Homo Sapiens é o ser mais evoluído da Terra e as Forças Armadas o que há de mais criterioso em matéria de segurança no planeta Terra.
Os extraterrestres, se forem primitivos, não sei se eles têm Forças Armadas, organização social ou institucional ou organizacional para isto, ou mesmo, comportamental e psicológica, ou filosófica, espiritual, orgânica e física, se têm habilidades e competência, se têm motivação e interesse, se têm repertório, se têm uma história de vida e de sociedade que os levem para isto, se há um contexto para este evento, se são primitivos, como os índios ou como os outros seres vivos da Terra, se são pacíficos ou espiritualizados, se são xamãs ou curandeiros, se são ¨monstros¨ ou fantasmas, são muitas as possibilidades, os caminhos dependem dos sinais, os caminhos podem, nos levar para encarar o poder da Morte como uma instituição, instinto ou meio pelo qual o Homo Sapiens cria totens e tabus para limitar e proibir certos comportamentos, mediante histórias de fantasmas e de ¨contaminação¨ que trazem pragas e azar para seus povos ou tribos, justificando a criação destes totens e tabus, e depois de ritos e mitos que alicerçam a moral e o superego do Homo Sapiens. A morte cria e recria, mais lentamente, talvez quase nunca, comportamentos para o Homo Sapiens se comportar, se organizar e se reorganizar diante de um painel de arquétipos que suscitam no indivíduo sonhos, lembranças, desejos, fantasias, esperança, amor, cuidado, o passado, o presente e o futuro. Esse painel de arquétipos ou velório, funeral e enterro, fica para sempre na mente inconsciente, pois se trata do poder da Morte sobre o indivíduo. A cada passo avançamos e descobrimos o novo, o novo pode ser o poder da Vida sobre o poder da Morte....
Osny Mattanó Júnior
Londrina, 14 de janeiro de 2025.
OSNY MATTANÓ JÚNIOR (ADAPTAÇÃO DO LIVRO DE JOSEPH CAMPBELL)
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I
O MITO E O MUNDO MODERNO
Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.
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MOYERS: Por que mitos? Por que deveríamos importar-nos com os mitos? O que eles têm a ver com minha vida?
CAMPBELL: Minha primeira resposta seria: “Vá em frente, viva a sua vida, é uma boa vida – você não precisa de mitologia”. Não acredito que se possa ter interesse por um assunto só porque alguém diz que isso é importante. Acredito em ser capturado pelo assunto, de uma maneira ou de outra. Mas você poderá descobrir que, com uma introdução apropriada, o mito é capaz de capturá-lo. E então, o que ele poderá fazer por você, caso o capture de fato?
Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento. Antigamente, o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do dia não se chocavam com a atenção que você dedicava à vida interior, nem com a magnífica herança humana que recebemos de nossa grande tradição – Platão, Confúcio, o Buda, Goethe e outros, que falam dos valores eternos, que têm a ver com o centro de nossas vidas. Quando um dia você ficar velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas, então se voltar para a vida interior, aí bem, se você não souber onde está ou o que é esse centro, você vai sofrer.
As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educação de toda gente.
Tendo sido suprimidas, toda uma tradição de informação mitológica do Ocidente se perdeu.
Muitas histórias se conservavam, de hábito, na mente das pessoas. Quando a história está
em sua mente, você percebe sua relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua vida. Isso dá perspectiva ao que lhe está acontecendo. Com a perda disso, perdemos efetivamente algo, porque não possuímos nada semelhante para pôr no lugar. Esses bocados de informação, provenientes dos tempos antigos, que têm a ver com os temas que sempre deram sustentação à vida humana, que construíram civilizações e enformaram religiões através dos séculos, têm a ver com os profundos problemas interiores, com os profundos mistérios, com os profundos limiares da travessia, e se você não souber o que dizem os sinais ao longo do caminho, terá de produzi-los por sua conta. Mas assim que for apanhado pelo assunto, haverá um tal senso de informação, de uma ou outra dessas tradições, de uma espécie tão profunda, tão rica e vivificadora, que você não quererá abrir mão dele.
MATTANÓ: Você precisa de mitos como precisa de poder sobre a vida assim como precisa de poder sobre a morte, da mesma forma, de uma linguagem, de um inconsciente, de relações entre fatos e fenômenos, de relações entre histórias e contos, entre religiões e heróis, monstros e escravos, de relações entre eventos que te capturam. Ser capturado por algo que lhe interessou a partir de uma indicação pode ser um caminho para se encantar pelos mitos, pelos heróis, monstros e escravos, pela vida e pela morte, até pelos extraterrestres e seus mistérios, o caminho para a busca interior é difícil e faz sofrer, requer atenção à vida interior, com os extraterrestres é igual, você não abrirá mais mão dessas tão ricas e vivificadoras travessias com seus profundos mistérios, eventos profundos com heróis, monstros e escravos, até mesmo alienígenas, teus problemas interiores sofrerão impacto da influência alienígena e da sua respectiva mitologia, alterando sua compreensão a respeito da vida e da morte, que deslumbramos nos sinais nos céus e nos desenhos de sinais nas plantações agrícolas humanas. Notamos que estes sinais seguem-se muitas vezes reproduzidos pelos mass mídia e por indivíduos influentes, como forma de difundir uma cultura e mitologia alienígena suscitada no imaginário humano através de seus símbolos e dos símbolos alienígenas, como forma de comunicação, de interação e troca de informações entre as diferentes espécies, entre os Homo Sapiens, os demais seres vivos do planeta Terra e os alienígenas que falam da vida e da morte de modo diferente, provavelmente em função da sua evolução, seleção e competição em meio ambiente diferentes e com uma realidade física, mental e social diferentes que formam sendo reforçadas conforme sobreviviam, talvez o mistério e o segredo para o nosso mundo ou planeta Terra está escondido em dificultar e impedir a sobrevivência dessas criaturas alienígenas que invadem o nosso mundo, isto dificultaria e impediria a evolução, a seleção e a competição entre indivíduos e espécies diferentes dessas criaturas alienígenas. O plano alienígena atual parece ser me crucificarem ou matarem para eu me transformar em Deus e dominar o mundo – a responsabilidade deste crime é de quem investiu nele, autoridades do Brasil e do mundo que usam a população doente e sem recursos, iludindo a todos com promessas de enriquecimento fácil, onde artistas do mundo e do Brasil participam dessa organização criminosa, pois sabem que sou vítima de crimes e não sou alienígena e não quero morrer crucificado, e que a minha mensagem de Maria, de Jesus Cristo e de Deus Pai tem influência de alienígenas – a Igreja já sabia disto, pois observa e anota tudo o que penso!
MOYERS: Quer dizer que contamos histórias para tentar entrar em acordo com o mundo, para harmonizar nossas vidas com a realidade?
CAMPBELL: Penso que sim. Romances – grandes romances – podem ser excepcionalmente instrutivos. Nos meus vinte e nos meus trinta, até nos meus quarenta anos, James Joyce e Thomas Mann eram meus professores. Eu lia tudo o que eles escreveram. Ambos escreveram em termos do que se poderia chamar de tradição mitológica. Tome, por exemplo, a história de Tonio, no Tonio Kröger, de Thomas Mann. O pai de Tonio era um sólido homem de negócios, um cidadão de relevo em sua cidade natal. O pequeno Tonio, porém, tinha um temperamento artístico, por isso mudou se para Munique e reuniu se a um grupo de literatos, que se sentiam superiores aos meros ganhadores de dinheiro e aos homens de família.
Assim, eis aí Tonio dividido entre dois pólos: seu pai, que era um bom pai, responsável e tudo o mais, mas que nunca tinha feito o que queria, em toda a sua vida; e, por outro lado, aquele que deixa sua cidade natal e assume uma atitude crítica em relação à vida que se levava lá. Mas Tonio descobriu que de fato amava a gente de sua cidadezinha. E embora se julgasse um pouco superior a eles, em termos intelectuais, e pudesse falar deles com palavras cortantes, seu coração, apesar de tudo, estava com eles.
Mas quando partiu, para viver com os boêmios, descobriu que estes tinham tal desdém pela vida que tampouco poderia viver com eles. Por isso deixou os e escreveu uma carta a um do grupo, dizendo: “Admiro aqueles seres frios e orgulhosos que se arriscam nos caminhos da beleza elevada e diabólica e menosprezam a ‘humanidade’; mas não os invejo. Pois se alguma coisa é capaz de fazer de um literato um poeta, essa coisa é o amor de minha cidade natal pelo humano, aquilo que existe e é comum. Todo calor deriva desse amor, toda doçura e todo humor. De fato, quanto a mim, creio mesmo que esse amor deve ser aquele sobre o qual está escrito que se pode ‘falar com a língua dos homens e dos anjos’, que no entanto soa, quando o amor falta, ‘como metal ruidoso ou címbalo tilintante’”.
Em seguida, ele diz que “o escritor deve ser verdadeiro para com a verdade”. E ele é um assassino, porque a única maneira de você descrever verdadeiramente um ser humano é através de suas imperfeições. O ser humano perfeito é desinteressante – o Buda que abandona o mundo, você sabe. As imperfeições da vida é que são apreciáveis. E, quando lança o dardo de sua palavra verdadeira, o escritor fere. Mas o faz com amor. É o que Mann
chamava “ironia erótica”, o amor por aquilo que você está matando com sua palavra cruel, analítica.
MATTANÓ: Contamos histórias para harmonizar nossas vidas com a realidade, pois histórias são instrutivas e ajudam a memorizar como também ajudam na alfabetização, na linguagem e na cultura, assim contamos histórias sobre alienígenas, sobre contatos extraterrestres, para harmonizar nossa vida, nossa realidade com os alienígenas, para nos lembrarmos de que eles existem ou podem existir, mas contamos histórias também para nos harmonizarmos com o poder da morte, seus significados e seus sentidos, o que ele nos reserva comportamentalmente e psicologicamente, socialmente, através das suas consequências sobre a vida dos enlutados, que choram ou contam histórias para elaborar suas perdas.
O escritor deve ser verdadeiro para com a verdade no que escreve, para poder descrever um ser humano imperfeito ele somente pode fazê-lo descrevendo suas imperfeições, portanto para descrever um contato extraterrestre, um OVNI ou alienígena deve saber ser verdadeiro e saber usar sua linguagem com a maior realidade possível para harmonizar o ser humano ao seu contexto. Da mesma forma, o escritor deve ser verdadeiro com suas palavras, significados e sentidos, através da sua semântica, atos ilocucionários e atos perlocucionários, pressupostos e subentendidos e assim narrar e/ou comentar suas histórias acerca das personagens com quem viveu e conheceu ou testemunhou, ou mesmo ficou sabendo por meio de outros meios como a fofoca ou a imprensa, e desta forma provar o poder da morte em sua vida como um evento natural e que reascende a vida de diversas maneiras, seja energeticamente, materialmente, espiritualmente, fisicamente ou religiosamente.
O amor do escritor está na sua palavra cruel e na sua ironia erótica, como está quando trata de alienígenas na sua palavra reveladora. Mas está também no poder de reascender a vida através do poder da morte como testemunha ou experiência própria, como no caso das e.q.m., experiências quase morte.
MOYERS: Tenho muito carinho por essa imagem: o amor de minha cidade natal, o sentimento que você tem por esse lugar, não importa por quanto tempo esteve ausente, mesmo que nunca retorne. Foi lá que você descobriu as pessoas pela primeira vez. Mas por que você diz que ama as pessoas por suas imperfeições?
CAMPBELL: As crianças não são adoráveis porque estão caindo a todo instante e porque têm o corpo pequeno e a cabeça muito grande? Walt Disney não sabia tudo a respeito quando concebeu os sete anões? E esses divertidos cachorrinhos que as pessoas têm – eles não são adoráveis por serem tão imperfeitos?
MOYERS: A perfeição seria algo tedioso, não seria?
CAMPBELL: Teria de ser. Seria desumano. O umbilical, a humanidade, aquilo que se faz humano e não sobrenatural e imortal – isso é adorável. É por essa razão que algumas pessoas têm dificuldade em amar a Deus; nele não há imperfeição alguma. Você pode sentir reverência, mas isso não é amor. É o Cristo na cruz que desperta nosso amor.
MATTANÓ: O amor que sentimos pelas pessoas está ligado a sua cidade natal, não importando se estão perto ou longe dela, foi lá que conheceram outras pessoas pela primeira vez e assim conheceram suas imperfeições. Notadamente sabemos que a perfeição é algo tedioso e desumano. Os extraterrestres são imperfeitos – isso nos chama a atenção e os tornam adoráveis. Amar a Deus pode parecer muito difícil, mas amar a Cristo numa Cruz pode ser muito mais fácil pois sua Cruz desperta o nosso amor. Os extraterrestres também despertam o nosso amor pela nossa cidade natal e pelo nosso mundo quando estão sob ameaça e perigo de invasão. Tanto o Amor a Deus, a Jesus Cristo ou o interesse pelos extraterrestres envolvem o perigo de morrermos e até de sermos extintos, através do Apocalipse que pode vir em forma de guerra ou acontecimento extraterrestre como chuva de pedras do espaço ou um grande asteroide ou mesmo, a explosão de alguma estrela próxima, são tantas as hipóteses que morrer trata-se de uma ameaça a vida e de perigo de invasão, seja lá quem você for!
MOYERS: O que você quer dizer com isso?
CAMPBELL: Sofrimento. Sofrimento é imperfeição, não é?
MOYERS: A história do sofrimento humano, a luta, a vida...
CAMPBELL: ...e a juventude chegando ao conhecimento de si mesma, ela tem que passar por isso.
MATTANÓ: Sofrimento e imperfeição despertam o nosso amor, pois isso é luta e vida, isso é o teor da juventude quando ela está conhecendo a si mesma. Os extraterrestres despertam o nosso sofrimento e até a nossa imperfeição, fenômenos que evocam o nosso amor e o põem a serviço da vida e da luta pela vida, da proteção do mundo e da vida Os extraterrestres despertam os sentimentos e os instintos de autopreservação contra ameaças e invasões, gerando comportamentos de amor por si mesmo e pelo seu grupo ou espécie, pelo seu mundo, pela sua vida, por isso a vida é luta diária pela sobrevivência e somente a diplomacia pode acalmar as ondas deste mar em tempestades que podem levar o homem a caminhar sobre suas próprias águas e naufragar se não tiver fé ou permanecer caminhando se tiver fé e assim alcançar um porto seguro onde poderá atracar e descansar, viver sua vida normalmente, pelo menos é isto o que me parecem as leis do universo para a evolução, seleção e competição das espécies e indivíduos da mesma espécie, trata-se de ciência e não de ¨mensagem¨.
MOYERS: Através da leitura de seus livros – The Masks of God e The Hero with a Thousand Faces – vim a compreender que aquilo que os seres humanos têm em comum se revela nos mitos. Mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através dos tempos. Todos nós precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos nós precisamos compreender a morte e enfrentar a morte, e todos nós precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos.
CAMPBELL: Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior de nosso ser e de nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. É disso que se trata, afinal, e é o que essas pistas nos ajudam a procurar, dentro de nós mesmos.
MATTANÓ: A verdade se revela em mitos através da busca pela verdade, de sentido, de significação, de conceituação, de contextualização, de funcionalidade, de comportamentos que através dos tempos são ritualizados para revelar a verdade, e assim contar uma história, e poder compreender a nossa própria história, como uma experiência de estarmos vivos, onde essa experiência tenha ressonância em nosso interior como uma realidade mais íntima e sintamos o enlevo de estarmos vivos e não mais busquemos o sentido da vida, e nem tampouco e significado e o sentido da morte. Os extraterrestres desencadeiam o comportamento humano de tentar compreender a própria verdade, através da verdade, de sentido, de significação, de conceituação, de contextualização, de funcionalidade e de comportamentos que são ritualizados para revelar a verdade e deste modo poder contar uma história, para se compreender e viver a experiência de estarmos vivos, pois os extraterrestres derrubam leis universais e espirituais as quais nos apoiávamos para viver, educar e se desenvolver, a experiência de estarmos vivos pode ser uma experiência de quem já foi crucificado e ressuscitou, neste caso, a humanidade com Cristo. Os extraterrestres investem na paranormalidade diante da morte, desencadeando delírios e alucinações relacionadas a própria história de vida e ao apocalipse pessoal que se revela através da visão do futuro, que se torna possível com o poder dos extraterrestres de viajar no tempo e no espaço e assim conhecer o futuro, o passado e o presente de qualquer evento, de modo que a finitude ou morte revelada torna-se um grande sofrimento para o indivíduo, pois lhe falta um significado e um sentido de vida após a morte e de ressurreição, de Santidade e de Salvação mediada por Deus e não pelos seus servos que pregam os pregos da crucificação de Deus e da morte, pois não acreditam em outra forma de Vida Eterna, Ressurreição e Salvação ou de Paraíso.
MOYERS: Mitos são pistas?
CAMPBELL: Mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana.
MOYERS: Aquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente?
CAMPBELL: Sim.
MOYERS: Você mudou a definição de mito, de busca de sentido para experiência de sentido.
CAMPBELL: Experiência de vida. A mente se ocupa do sentido. Qual é o sentido de uma flor? Há uma história zen sobre um sermão do Buda, em que este simplesmente colheu uma flor. Houve apenas um homem que demonstrou, pelo olhar, ter compreendido o que o Buda pretendera mostrar. Pois bem, o próprio Buda é chamado “aquele que assim chegou”. Não faz sentido. Qual é o sentido do universo? Qual é o sentido de uma pulga? Está exatamente ali. É isso. E o seu próprio sentido é que você está aí. Estamos tão empenhados em realizar determinados feitos, com o propósito de atingir objetivos de um outro valor, que nos esquecemos de que o valor genuíno, o prodígio de estar vivo, é o que de fato conta.
MATTANÓ: A mente é a responsável pelo sentido, mas o verdadeiro sentido é que você existe, que você está ali, que você pertence a esta realidade, a este mundo, que você está vivo, mas quem realmente se importa se você ou o outro ser está vivo? Qual o papel da realidade? Dar sentido ou dar vida ao organismo? Certamente, em primeiro lugar é dar vida ao organismo e somente depois dar sentido, significado, conceito, contexto, funcionalidade e comportamento para esse organismo. O grande fato da vida é a própria vida, inclusive a dos extraterrestres. Se os extraterrestres dão significado, sentido, conceito, contexto, funcionalidade e comportamento as suas verdades é outra questão, é uma questão de educação e de socialização. Já a vida é uma questão original, primitiva, fundamental, da gênese, de formação, de concepção. O sentido da vida está em estar vivo e em algum lugar com sua consciência, cultura, conhecimento e realidade, mas também com sua finitude e aceitação dela, ou seja, com disponibilidade para a morte ou para o fim e o apocalipse, eis que o sentido da vida é estar alí com sua finitude.
MOYERS: Como chegar a essa experiência?
CAMPBELL: Lendo mitos. Eles ensinam que você pode se voltar para dentro, e você começa a captar a mensagem dos símbolos. Leia mitos de outros povos, não os da sua própria religião, porque você tenderá a interpretar sua própria religião em termos de fatos – mas lendo os mitos alheios você começa a captar a mensagem. O mito o ajuda a colocar sua mente em contato com essa experiência de estar vivo. Ele lhe diz o que a experiência é. Casamento, por exemplo. O que é o casamento? O mito lhe dirá o que é o casamento. E a reunião da díade separada. Originariamente, vocês eram um. Vocês agora são dois, no mundo, mas o casamento não é senão o reconhecimento da identidade espiritual. É
diferente de um caso de amor, não tem nada a ver com isso. É outro plano mitológico de experiência. Quando pessoas se casam porque pensam que se trata de um caso amoroso duradouro, divorciam-se logo, porque todos os casos de amor terminam em decepção. Mas o matrimônio é o reconhecimento de uma identidade espiritual. Se levamos uma vida adequada, se a nossa mente manifesta as qualidades certas em relação à pessoa do sexo oposto, encontramos nossa contraparte masculina ou feminina adequada. Mas se nos deixarmos distrair por certos interesses sensuais, iremos desposar a pessoa errada. Desposando a pessoa certa, reconstruímos a imagem do Deus encarnado, e isso é que é o casamento.
MATTANÓ: Você descobrirá a experiência de estar vivo também através da leitura dos mitos, eles te farão captar a mensagem dos símbolos. Símbolos podem ser encontrados em rituais, como no casamento, onde desposamos a pessoa certa ou a pessoa errada. Se for a pessoa errada deixamo-nos nos distrair por outros interesses. Mas se for a pessoa certa, reconstruiremos a imagem do Deus encarnado, que é o próprio casamento, e teremos o reconhecimento da identidade espiritual. Os símbolos extraterrestres também podem ajudar na experiência de estarmos vivos. Podemos encontrá-los em sinais, visões e aparições extraterrestres, talvez tenham como finalidade um contato extraterrestre, uma mensagem, uma marca, um sinal, uma comunicação, um fenômeno, um trabalho, uma aparição, um estudo, uma contaminação, etc., seja lá o que for ajudam na experiência de estarmos vivos através de seus símbolos em plantações ou em nuvens, por exemplo. Seja lá o que for, através deste mundo e da sua cultura e da cultura do universo, representada pela dos alienígenas, a experiência de estarmos vivos através do casamento pode levar a felicidade e ao sentimento de estarmos vivos ou a infelicidade e ao sentimento de estarmos mortos, com a ajuda de símbolos, em ambos os casos, símbolos deste mundo e símbolos alienígenas que transmitem uma experiência através da consciência, da cultura, do conhecimento e da realidade vivida e representada.
MOYERS: A pessoa certa? Como é que se escolhe a pessoa certa?
CAMPBELL: O coração lhe dirá. É preciso que seja assim.
MOYERS: O ser interior.
CAMPBELL: Eis o mistério.
MOYERS: Você reconhece seu outro eu.
CAMPBELL: Bem, não sei, mas há uma luz que cintila e algo em você lhe diz que é essa a pessoa certa.
MOYERS: Se o casamento é essa reunião do próprio com o próprio, com a base masculina ou feminina de nós mesmos, por que é assim tão precário na nossa sociedade moderna?
CAMPBELL: Porque não é encarado como casamento. Eu diria que se o casamento não é de magna prioridade em suas vidas, vocês não estão casados. O casamento significa os dois que são um, os dois que se tornam uma só carne. Se o casamento dura o suficiente, e se você se amolda constantemente a ele, em vez de ceder a caprichos pessoais, você chega a se dar conta de que isso é verdade – os dois realmente são um.
MOYERS: Um, não apenas biologicamente, mas espiritualmente.
CAMPBELL: Sobretudo espiritualmente. O biológico é a distração que pode conduzi-lo à falsa identificação.
MATTANÓ: O mistério do casamento é o coração, como ele guia o casal para sua união perfeita. Como ele ajuda um ao outro se reconhecer no outro. Quando o casamento não é visto como um casamento, como uma prioridade para o casal, o casal não está unido nem está casado. O casamento pode caminhar por caprichos pessoais enquanto durar, mas pode ser realmente um casamento, quando os dois são realmente um. Os extraterrestres podem nos ajudar a compreender melhor o casamento, quando nos deslumbramos com alienígenas e temos que por o trabalho em primeiro lugar significa que o casamento acabou ou significa que o casamento se adaptou ao novo contexto, certamente se o casal for inteligente cognitivamente e afetivamente, se adaptará ao novo contexto, bem como seu casamento que continuará sendo uma prioridade, mesmo que o casal venha a ficar longos períodos distante um da outra, não por caprichos pessoais, mas por trabalho. O trabalho é ferramenta essencial para o surgimento do Homo Sapiens e seu desenvolvimento bio-psico-social, em função disto o trabalho é superior ao biológico que por sua vez, leva a uma falsa identificação. Eis que o casamento quando rompe as regras da equidade e se torna fonte de acúmulo e distribuição de riquezas através do trabalho, remodelando os ciclos circadianos de cada um, de modo que podem se tornar mais dependentes do trabalho do que dos laços afetivos, por meio de uma sublimação ou substituição, nos indicando que o trabalho pode ser maior do que os instintos sexuais numa relação de matrimônio, fenômeno que induz pensar numa falsa identificação, num desejo de morte, que na verdade se trata de sublimação e substituição de comportamentos afetivos por trabalhistas que têm outra finalidade, como a produção e acumulação de riquezas, o que pode ser normal numa sociedade de homens e mulheres formados e formadas, que sonham com suas carreiras e com seu trabalho, tanto quanto com sua afetividade e vida familiar, conciliando ambas de maneira organizada e inteligente.
MOYERS: Então a função necessária do casamento, perpetuar a espécie, não é a primordial?
CAMPBELL: Não, isso na verdade é apenas o aspecto elementar do casamento. Há dois estágios completamente diferentes no casamento. Primeiro, quando os nubentes são jovens e seguem o maravilhoso impulso concedido pela natureza, da inter-relação biológica dos sexos, para produzir crianças. Mas chega um tempo em que a criança se emancipa da família e o casal é deixado para trás. Espanta-me o número de amigos que se separam aos quarenta ou aos cinqüenta anos de idade. Tinham vivido até aí uma vida perfeitamente satisfatória, juntos, com a criança, mas interpretavam essa união em termos de sua relação através da criança. Não a interpretavam em termos do próprio relacionamento pessoal, de um para com o outro.
Casamento é uma relação. Quando vocês se sacrificam no casamento, o sacrifício não é feito em nome de um ou de outro, mas em nome da unidade na relação. A imagem chinesa do Tão, com a treva e a luz interagindo, mostra a relação entre yang e yin, masculino e feminino, e é isso que vem a ser o casamento. É nisso que vocês se tornam quando se casam. Você deixa de ser aquele um, solitário; sua identidade passa a estar na relação. O casamento não é um simples caso de amor, é uma provação, e a provação é o sacrifício do ego em benefício da relação por meio da qual dois se tornam um.
MATTANÓ: A função de perpetuar a própria espécie através do casamento torna-se
elementar, assim a filogênese torna-se menor que a espiritualidade e a cultura. É a filogênese quem produz um maravilhoso desejo de produzir crianças, onde o casal acaba vivendo em função das crianças e depois se separa ao ver seus filhos adultos e emancipados. A filogênese determina o nosso sentimento de estarmos vivos através do amor e da reprodução, por um lado, mas por outro lado, reserva o sentimento e o medo de morrermos e perdermos o nosso significado e sentido de estarmos vivos, através do amor, da relação sexual e da reprodução. Nota-se que o casamento é uma relação, uma relação social, onde cada oposto se une como o dia e a noite, o claro e o escuro, o masculino e o feminino, formando uma unidade, que deixa de ser um ser solitário e individual, onde o amor é uma provação, um sacrifício do ego, uma renúncia em benefício da relação por meio da qual se tornam uma unidade. Os alienígenas reforçam a postura do sacrifício e da renúncia pelo casamento, quando investem em oportunidades de trabalho consideradas de risco e de alto risco em benefício de uma unidade e de amor conjugal por meio de renúncias que vão as de segurança até as de consumo e de relacionamentos e de liberdade. A morte é justamente a negação desse investimento ou formas de educação e de consumo, relacionamentos e de liberdade.
MOYERS: Então o casamento é intrinsecamente incompatível com a idéia de cada um cuidar dos próprios interesses.
CAMPBELL: Não se trata simplesmente dos próprios interesses, como você vê. De certa maneira, sim, cada um cuida dos próprios interesses, mas acontece que esse um não é apenas você, é a díade reunida em um. Eis aí uma imagem genuinamente mitológica, significando o sacrifício de uma entidade visível em nome de um deus transcendente. Isso é algo que se torna maravilhosamente consciente no segundo estágio do matrimônio, que eu chamo de estágio alquímico – os dois vivendo a experiência de serem um. Se continuarem vivendo como viviam no primeiro estágio do casamento, eles se separarão quando as crianças os deixarem. O papai se apaixonará por alguma garotinha casadoira, cairá fora, e a mamãe se verá a sós com uma casa e um coração vazios, e terá de resolver a coisa por si mesma, com seus próprios recursos.
MOYERS: É por isso que não entendemos os dois níveis de casamento.
CAMPBELL: Vocês não assumem um compromisso.
MOYERS: Supostamente, sim – assumimos um compromisso para o melhor e para o pior.
CAMPBELL: São vestígios de um ritual.
MOYERS: E o ritual perdeu sua força. O ritual, que antes representava uma realidade profunda, virou mera formalidade. E isso é verdade nos rituais coletivos assim como nos rituais pessoais, relativos a casamento e religião.
MATTANÓ: Cuidar dos próprios interesses através do casamento apenas através do significado da díade reunida em um, onde deixamo-nos transcender pela mitologia, como que num poder alquímico você se vê no segundo estágio do casamento, onde o casal vive a experiência de ser um. Se por algum motivo o casal não alcança este estágio acabará se separando depois que os filhos se tornarem independentes, aqui o casamento enfrenta a sua morte ou o poder da morte em sua estrutura. O segredo do casamento é necessariamente este, assumir um compromisso para o que quer que seja através do verdadeiro significado do ritual, ou seja, sem deixá-lo se transformar em mera formalidade, é pois, a formalidade a responsável pela mortificação do casamento e do casal. Os alienígenas reforçam essa ideia de ritual e não de formalidade, pois é como se precisássemos de algo a mais para lidar com eles, algo que só nos é dado através dos rituais, algo que a formalidade não é capaz de fornecer ao ser humano, algo que nos falta, um poder mágico e transcendental que eleva o ser humano e aumenta suas forças e capacidades de força e de realização, para, por exemplo, lidar com os extraterrestres, pois ainda não possuímos um roteiro ou mapa para seguirmos e podermos lidar com os extraterrestres, isto aumenta o seu poder mágico e transcendental em relação ao seu poder de mortificação, tipificação ou alienação e despersonalização.
CAMPBELL: Quantas pessoas, antes do casamento, recebem um adequado preparo espiritual sobre o que o casamento significa? Você pode ficar parado diante do juiz e se casar, em dez minutos. A cerimônia de casamento na índia dura três dias. O par fica grudado.
MOYERS: Você está dizendo que o casamento não é apenas um arranjo social, mas um exercício espiritual.
CAMPBELL: É primordialmente um exercício espiritual, e a sociedade deveria nos ajudar a tomar consciência disso. O homem não devia estar a serviço da sociedade, esta sim é que deveria estar a serviço do homem. Quando o homem está a serviço da sociedade, você tem um Estado monstruoso, e é exatamente isso o que ameaça o mundo, neste momento.
MATTANÓ: Receber um devido preparo para o casamento, para o seu verdadeiro significado como é feito na Índia, significa que o casamento não é apenas um arranjo social, mas um meio de se capacitar ou se exercitar espiritualmente, onde a sociedade deveria estar a serviço do ser humano e não o ser humano estar a serviço da sociedade, este fenômeno cria um Estado violento, escravizador e monstruoso, o fracasso de muitas autoridades se deve a isto, a um comportamento que ameaça o mundo e as suas relações internacionais e institucionais. Os alienígenas nos ensinam que se houver contato extraterrestre o papel da sociedade deve ser de se por à serviço do ser humano e não de colocar o ser humano a seu serviço, a não ser que haja uma guerra ou conflito com os alienígenas onde os seres humanos tenham que lutar para defender a humanidade e suas vidas, e seu planeta. Será que uma ditadura contra os alienígenas não seria a solução ou não seria evidentemente necessária se houver acontecimentos catastróficos e trágicos em caso de guerra e batalha, e perigo de dominação, escravidão e extermínio humanos?! O poder da morte poderia ser a solução em caso de invasão alienígena, dominação, escravidão e extermínio humanos, pois a vida, o patrimônio, a reprodução, o casamento e a liberdade ou a economia e a segurança, o poder e o direito e o dever de todos estaria ameaçado e constrangido em caso de invasão, guerra ou batalha contra alienígenas, pois o estado tornar-se-á uma ameaça a vida e a liberdade humana. Eis aqui o significado do poder da morte com a ¨renúncia¨ ao casamento, como recurso de defesa contra alienígenas – uma mitologia do nosso tempo, onde o relacionamento, o matrimônio e a vida conjugal tornam-se métodos de defesa individual, social e familiar, pois a mortificação psicológica pode ser uma forma de se defender do controle extraterrestre, como vemos em muitos exemplos do nosso tempo, onde relacionamentos estão em ruínas e pessoas estão enlouquecendo em função de eventos paranormais alienígenas que evocam o poder da morte entre nós, seres humanos.
MOYERS: O que acontece quando uma sociedade já não abriga uma mitologia poderosa?
CAMPBELL: Aquilo com que nos defrontamos, no presente. Se você quiser descobrir o que significa uma sociedade sem rituais, leia o Times, de Nova Iorque.
MOYERS: E você descobrirá...?
CAMPBELL: As notícias do dia, incluindo atos destrutivos e violentos praticados por jovens que não sabem como se comportar numa sociedade civilizada.
MOYERS: A sociedade não lhes forneceu rituais por meio dos quais eles se tornariam membros da tribo, da comunidade. Todas as crianças deveriam nascer duas vezes para aprender a funcionar racionalmente no mundo de hoje, deixando a infância para trás. Penso nas palavras de São Paulo, na Primeira Epístola aos Coríntios: “Quando eu era criança, falava como criança, compreendia como criança, pensava como criança; mas quando me tornei um homem, pus de lado toda criancice”.
CAMPBELL: É exatamente isso. Eis o significado dos rituais da puberdade. Nas sociedades primitivas, dentes são arrancados, dolorosas escarificações são feitas, há circuncisões, toda sorte de coisas acontecem, para que você abdique para sempre do seu corpinho infantil e passe a ser algo inteiramente diferente.
Quando eu era criança, nós vestíamos calças curtas, você sabe, calças pelos joelhos. E chegava então o grande momento em que você vestia calças compridas. Quando é que eles vão saber que já são homens e precisam abandonar as criancices?
MATTANÓ: Quando uma sociedade já não tem uma mitologia poderosa os comportamentos violentos e hostis dos nossos jovens se tornam desregrados, um drama, um problema, pois não tem como se comportar numa sociedade civilizada, ou seja, a sociedade não os reúnem em seu corpo organizado, em suas comunidades, e eles não tiveram como deixar suas infâncias ou criancices para trás, os rituais da puberdade tem por objetivo inserir as crianças na adolescência para que renunciem para sempre de seu corpo infantil e passem a ser um novo jovem. O homem velho tem de morrer para que o homem novo nasça, eis o poder da morte. Os alienígenas nos propiciam a sensação de que devemos amar e respeitar mais as nossas crianças e os nossos adolescentes e jovens, pois a mitologia ao qual se submetem está em transformação e isto põe em transformação e movimento a mitologia das nossas crianças, adolescentes e jovens, modificando seus comportamentos, interesses, objetivos e afetos, inserindo contingências extraterrestres em seu corpo organizado, em sua sociedade, em sua família, marcando cada nova fase ritualística do desenvolvimento humano onde o ser humano deixa para trás o velho e assume o novo homem. O novo homem está nascendo em meio aos eventos extraterrestres em nosso mundo e devemos nos preparar ritualmente para assimilá-los comportamentalmente e simbolicamente, para que possamos superar as novas adversidades do meio ambiente, agora do Universo. O novo homem ou homem novo nasce do homem velho e do poder da morte, seja qual for a sua realidade e qual for o seu contexto, pois o nosso cérebro possui uma interconectividade cerebral aliada a uma corporal e orgânica que seleciona por meio da competição, estímulos – respostas – consequências, ou seja, S – R – C, uma funcionalidade que determina a sua adaptação comportamental, fisiológica e morfológica diante das adversidades e exigências do meio ambiente, com um aprendizado que vai se transformando em maximizado, isto é, com menos custos e com maiores benefícios, e sem desperdícios, segundo sua capacidade cognitiva, comportamental e inconsciente, moral e social, para a sua sobrevivência e reprodução.
MOYERS: Os adolescentes que crescem nesta cidade – nas imediações da Rua 125 com a Broadway, por exemplo, de onde é que eles tiram seus mitos, hoje?
CAMPBELL: Eles os fabricam por sua conta. Por isso é que temos grafites por toda a cidade. Esses adolescentes têm suas próprias gangues, suas próprias iniciações, sua própria moralidade. Estão fazendo o melhor que podem. Mas são perigosos, porque suas leis não são as mesmas da cidade. Eles não foram iniciados na nossa sociedade.
MATTANÓ: Os adolescentes de hoje costumam produzir e fabricarem seus próprios mitos, através de seus comportamentos e ritos como os grafites e pichações, eles tem suas próprias gangues ou grupos, segundo Piaget estão na fase de formação de grupos para viverem independentes de suas famílias, de seus pais e mães, de suas vidas infantis, assim eles tem suas próprias iniciações através de seus ritos, e sua própria moralidade, sua própria música. Estão alcançando o que conseguem alcançar. Porém há um perigo, suas leis são diferentes das leis das cidades, eles não foram iniciados na nossa sociedade, este fenômeno gera um drama, a violência, aqui revela-se o poder da morte entre estes adolescentes, quando eles se individualizam e adquirem uma identidade própria que é das ruas, orientada pelos ritos e mitos das ruas, o poder da morte ajuda e participa da seleção de comportamentos que forjarão ao drama e a violência entre estes jovens em suas caminhadas se eles não buscarem ajuda e mudança de comportamento. Os alienígenas nos ensinam que assim como os adolescentes, eles, os alienígenas, tem seus próprios ritos, sua própria inicialização, seus próprios grupos, suas diferenças que devem ser respeitadas e interpretadas se quisermos compreendê-los e assimilá-los, para que haja paz e convivência, os alienígenas podem aprender isto conosco também se houver meios para isto. Os alienígenas também podem ter suas relações com o poder da morte, mas nada conhecemos, seguramente, sobre eles que nos permita manipulá-los e modificar o seu comportamento, eles são permanentemente evasivos.